domingo, 17 de maio de 2015

Surge Canudos!

Apresentamos aqui, de maneira sucinta, a organização política Canudos. Iremos, posteriormente, publicar textos que possam debater com maior profundidade os temas aqui levantados, bem como outros que julgamos relevante tratar.

Quem Somos?

A Canudos surge, inicialmente, da experiência de alguns dos estudantes da UNESP que estiveram nas lutas por cotas, permanência estudantil, democracia e contra a repressão no ano de 2013 e que em 2015 decidiram por se organizar politicamente. Nesse mesmo ano de 2013, houve uma greve estadual de 4 meses, em conjunto com movimentos externos à comunidade universitária (Frente Pró Cotas, Movimento Passe-Livre, etc), que garantiu que a UNESP fosse a primeira das estaduais paulistas a adotar um sistema de cotas raciais e sociais.

Viemos de sucessivas tentativas de articulação do movimento estudantil com o popular e o dos trabalhadores em defesa da educação pública e de qualidade. Isso significa a defesa de uma educação a serviço dos subalternizados desta sociedade, contra o projeto elitista e racista de universidade que, utilizando o dinheiro dos impostos pagos pelos trabalhadores, visa somente aumentar o lucro de empresas.

Porém, nossa atuação não se circunscreve ao espaço da universidade. Vemos que o projeto de educação que queremos só é possível através da luta pela transformação da sociedade, contra a exploração e dominação de poucos sobre a maioria, em que não mais existam deveres sem direitos ou direitos sem deveres, que somente será possível através de um processo que a revolucione em toda sua estrutura.

Neste ano de 2015, nos consolidamos como uma organização política, que tem uma unidade estratégica de atuação entre seus membros, isto por que há a necessidade de transpor os muros da universidade, agregando setores diversos da sociedade.

Por que lutamos?

Vemos que nossa realidade está permeada por relações desiguais, que através da dominação e exploração, aqui entendida pelo termo opressão, possibilitam o privilégio de alguns em detrimento da maioria da humanidade, opressões historicamente criadas e que podem, pela via da ação política, ser historicamente superadas.

Racismo, patriarcado e capitalismo, ou seja, a opressão da população negra, indígena, das mulheres, LGBT+ e de toda a classe trabalhadora, está no centro de manutenção deste sistema social em que vivemos. Chamamos esses de "classes subalternas" cujos interesses se encontram em contradição direta com os da classe dominante, ou seja, daqueles que se beneficiam e sustentam  o sistema de dominação-exploração.

Tais sistemas, racismo-patriarcado-capitalismo, possuem autonomia restrita, o que significa que em determinada situação um destes pode ter maior relevo, porém, no todo social, estes estão imbricados e operam de forma a se manterem mutuamente. Deste modo, enfatizamos a necessidade da auto-organização destes setores subalternos contra a opressão que sofrem e a necessidade de encontrarmos um ponto de unidade nas iniciativas cotidianas de transformação de nossa realidade. É preciso que estes setores imponham suas próprias demandas ao movimento geral de transformação da realidade, o que somente é possível por sua própria organização.

Organização e Luta – o exemplo de Canudos

Nós, da Canudos, compreendemos que é necessária uma ação organizada em torno de uma base estratégica comum entre os membros do coletivo. Vemos, porém, que as atuais organizações não nos contemplam e, por isso, decidimos nos organizar em uma nova perspectiva das lutas que hoje enfrentamos a nível local e nacional.

Para tal desafio, ainda vemos que o marxismo é uma ferramenta importante, que nos possibilita uma compreensão da realidade social e que perante uma leitura da nossa realidade é que podemos definir meios de atuação prática e coletiva. Porém, partimos de um marxismo específico, ampliado por uma leitura da periferia do capitalismo, da questão de gênero e da questão étnico-racial.

Por isto, reivindicamos a luta dos camponeses de Canudos, que, por cerca de quatro anos, enfrentaram a implantação da república capitalista no Brasil, uma auto-organização dos trabalhadores, produzindo coletivamente e distribuindo a cada um de acordo com suas necessidades. Tal reivindicação é também parte de nossa defesa por uma leitura da realidade brasileira, como um resgate histórico da organização dos subalternos deste país, para que nossos passos se deem a partir do solo histórico em que nos encontramos. Sem nos esquecermos que Canudos, desencadeada no norte da Bahia em 1896, remonta às lutas por libertação dos subalternos de todo o mundo.

Não pretendemos colocar todos os setores sob nossa tutela ou direção, mas intencionamos com isto preparar nossa própria ação neste momento. Em nossa atuação prática, pretendemos nos colocar a tarefa de unificar as lutas que seguem, através da organização dos diferentes setores, voltados à construção e politização das bases. Não pensamos que temos "A" perspectiva revolucionária, ou seja, que só pela nossa concepção é que será possível tal ruptura, mas queremos colocar uma perspectiva que, através do conflito e do encontro com a prática, poderá transformar-se numa força realmente revolucionária pela organização de massas.

Atualmente, vemos projetos para aprovar a lei da terceirização, cortes nos direitos trabalhistas com o ajuste fiscal, projeto de redução da maioridade penal, etc., o que demonstra que estamos em um período de crise criado pelas classes dominantes em prejuízo do restante da sociedade. Enxergamos a necessidade de que em cada greve, em cada manifestação de rua, em cada passeata, encontremos a unidade de ruptura necessária para responder efetivamente às demandas da população.

Com isso, será com a luta conjunta, com a unicidade da base e com o anseio da classe que iremos caminhar. Nem adiante nem distante: avançaremos ombro a ombro junto à história e à massa!

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